O número foi avançado pelo antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, que aproveitou a Semana do Voluntariado para falar do sucesso que tem tido a Plataforma Global para Estudantes Sírios, da qual foi o mentor. Sampaio reforçou, ainda, a importância de continuar a investir em projetos de apoio a estudantes em mobilidade forçada.
Assinalou-se, na sexta-feira, o último dia da Semana de Voluntariado da Universidade do Porto e a sessão de encerramento contou com a presença do ex-Presidente da República, Jorge Sampaio. Foram apresentados dois projetos de apoio a estudantes em mobilidade forçada e, no final, houve um momento para premiar voluntários de organizações do Porto.
Sobre projetos como a Plataforma Global para Estudantes Sírios (PGES), criada em 2014, Jorge Sampaio afirma que para ter sucesso é “preciso arranjar uma combinação virtuosa entre aquilo que cada um pode fazer e aquilo que a sociedade pretende”. E considera que nos últimos anos Portugal cresceu muito na capacidade de relacionamento ente portugueses e estrangeiros.
De acordo com o antigo governante, desde 2014 (ano em que chegou a primeira família refugiada síria), já passaram por este programa mais de 400 jovens que foram integrados na sociedade portuguesa sem grandes dificuldades e aqui concluíram os estudos. Cerca de cem estão neste momento a estudar.
Segundo o mentor do projeto, “esta experiência [da PGES] em Portugal tem sido muito importante internacionalmente e começa a ser reconhecida”, alertando para “um movimento que apoia os estudantes nas emergências, porque era uma coisa que não era tratada antes”.
Além do antigo presidente, à conversa estiveram também o pró-reitor da UP José Castro Lopes, o médico humanitário Gustavo Carona, e três jovens que viram na Plataforma Global para Estudantes Sírios uma oportunidade para seguir o Ensino Superior em Portugal.
Para Gustavo Carona, a missão mais importante é a de educar as pessoas, pôr as crianças e jovens nas escolas. Nesta perspetiva, assume que se deve “começar pela educação onde ela é mais frágil”. “É preciso perceber que as fronteiras dão jeito para nos organizar, mas o nosso coração não devia ter tantas fronteiras como aquelas que tem tido até agora”, acrescenta o médico que, só este ano, já esteve em três zonas de conflito.
Refere, ainda, que o privilégio de ouvir os estudantes sírios que ali se encontravam era representativo do privilégio de ir lá [à Síria ou a outros países na mesma situação]. “É tão bom sentarmo-nos à mesa e ouvirmo-nos uns aos outros… Tendo esta capacidade de nos olharmos nos olhos e ouvirmos o que cada um tem para dizer, percebemos que somos todos iguais”, finaliza.
Durante a sessão, houve, ainda, um momento para os jovens sírios partilharem o seu testemunho.
Hala Jooriah está em Portugal desde maio de 2018 e, neste momento, está a tirar o mestrado na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.
A estudante não consegue ainda falar português, mas fez questão de usar a palavra “saudades” para manifestar o que tem sentido pela família e pelo seu país. Contudo, admite que “viver em Portugal com pessoas tolerantes, alegres, prestáveis e de mente aberta” ajudou-a a lidar com esse sentimento.
Neste país, diz ter experienciado, finalmente, o que significa ter liberdade e viver sem medos e em paz. “Aqui encontrei, de novo, a paz e segurança que tinha perdido no meu país por causa da guerra”, declarou a estudante síria.
Contudo, em conversa com o Esfera, reforçou que ainda há estudantes que esperam pela mesma oportunidade e aí surge a pertinência de sessões como aquela, pois dá aos estudantes sírios “a oportunidade de contar às pessoas a sua história, para que saibam que são casos reais”. Hala recusa pensar: “eu estou aqui, por isso, posso esquecer-me dos que estão lá”.
Sobre a instituição onde estuda, diz não ter nada a apontar: “A relação entre alunos e professores é fantástica, sinto-me confortável a falar com eles sobre o que for preciso. Para ser sincera, não mudaria nada”.
“Na Síria, o futuro simplesmente parou para nós”, explica. Por isso, o seu objetivo ao vir para Portugal era concluir os estudos para, assim, poder ajudar melhor o seu país. “Gostaria de voltar para reconstruir a nossa Síria, mas primeiro quero recompensar Portugal por tudo o que me deu”, sustenta a jovem.
Rami Arafat é outro estudante que viu na PGES uma oportunidade para concluir os estudos. Veio para Portugal em fevereiro de 2014 e começou a estudar no Instituto Politécnico de Bragança (IPB), onde concluiu o mestrado.
Atualmente, está a estudar na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, mas continua a fazer investigação no IPB. Ao JPN, conta que se sentiu muito bem acolhido em Bragança. “As pessoas lá – e em Portugal, no geral – são muito queridas. É uma cidade mais calma que o Porto e Lisboa, mas para mim isso é o ideal”, afirma. “Neste momento, sempre que volto a Bragança, sinto que é como se estivesse a voltar a casa”, acrescenta o jovem.
Contudo, o seu coração continua longe, na cidade de Homs, na Síria, a onde planeia voltar. “O motivo de estar aqui é para poder voltar quando a situação estiver melhor e quando eu puder fazer algo de positivo pelo meu país. Neste momento, não faria sentido voltar. Eu poderei ser útil lá, mas não por agora”, conclui.
De aproximadamente 30 países, apenas Portugal aceitou o pedido de Rami para continuar a estudar. De acordo com o estudante sírio, esta plataforma “abriu-lhe as portas” para um futuro mais risonho.
UP distingue seis voluntários do Porto
Na semana em que a Universidade do Porto foi distinguida no âmbito dos Prémios de Voluntariado Universitário, a instituição distinguiu ela própria voluntários de seis organizações da cidade do Porto, pelo trabalho realizado no último ano.
Assim, como voluntários do ano, foram premiados Joaquim Mendes da Casa-Museu Abel Salazar, Mariana Mendes Silva do Museu de História Natural e Ciência da U.Porto, Márcia Teixeira da Associação Cura +, Gonçalo Tavares da VO.U (Associação de Voluntariado Universitário), José Tiago Sousa da Solidarity Soul e Sara Isabel Pereira do CIFI2D, um projeto de voluntariado da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Artigo feito em colaboração com JPN.
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