Em Barcelona, os manifestantes catalães têm-se feito ouvir desde que o Supremo Tribunal de Espanha condenou nove líderes do movimento independentista a penas de prisão efetiva.
Desde o passado dia 14, Barcelona, por norma inundada de turistas e artistas de rua, serviu de átrio aos violentos confrontos motivados pela prisão dos nove líderes independentistas catalães. Esta tem sido uma das crises mais graves da história recente, não só da Catalunha, como de toda a Espanha.
A pena atribuída aos separatistas catalães varia entre os 9 e os 13 anos de cadeia e é motivada pelo crime de sedição, que tem como base o desrespeito pela aplicação das leis.
A maior infração terá ocorrido aquando da realização do referendo a 1 de outubro de 2017, na Catalunha. Segundo as autoridades locais, 2,6 milhões de cidadãos afluíram às urnas e obteve-se um resultado de 90% a favor da independência. Contudo, de acordo com o Supremo Tribunal Espanhol, a votação só seria legítima se fosse acordada em conjunto com o governo do país, uma vez que a Catalunha é um governo regional subordinado ao Estado Espanhol. Por este motivo, a eleição foi considerada ilegal e uma violação à Constituição.
A 27 de outubro do mesmo ano, o movimento independentista proclamou uma República Catalã independente, decisão que levou o então presidente do governo espanhol a dissolver o parlamento regional e a destituir Carles Puigdemont (anterior presidente do partido Generalitat e do governo regional da Catalunha).
Em março de 2019, um ano e meio depois do referendo ilegal e da declaração de independência da Catalunha, Quim Torra admitiu à Lusa que ainda "há muito trabalho pela frente", na medida em que ainda não se alcançou o objetivo de criar uma Catalunha independente da Espanha. Contudo, afirmou ter esperanças de que tal seja possível num futuro próximo.
Para o líder do governo regional, apesar da Constituição espanhola não permitir a realização de referendos exclusivos a uma comunidade autónoma, existem tratados internacionais que defendem o direito dos catalães determinarem o futuro e identidade da sua nação. Como exemplo, apontou o referendo sobre a independência da Escócia em 2014.
Passado sete meses, perante a decisão do Supremo Tribunal de Espanha, o movimento, até então, pacífico, originou protestos violentos no centro de Barcelona. A cidade turística e multicultural que abriga mais de 5 milhões e meio de pessoas serviu de cenário aos violentos confrontos cessados na passada segunda feira.
Segundo a Lusa, depois de uma semana de protestos e violência nas ruas, o presidente do governo regional da Catalunha, Quim Torra, pediu ao Presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, para iniciar “um diálogo sem condições” e acusou-o de não devolver telefonemas.
Pedro Sánchez visitou Barcelona, na passada segunda feira, com intuito de apoiar os agentes feridos nas manifestações. Contudo, recusou-se a reunir com Quim Torra, afirmando que, para tal acontecer, o presidente da Generalitat teria de condenar pública e explicitamente a violência ocorrida nas manifestações, particularmente, contra as autoridades.
Quase 200 pessoas foram detidas e 289 agentes da polícia ficaram feridos nos protestos na Catalunha; porém, as manifestações não parecem ter terminado. Na passada terça feira, o Sindicado de Estudantes de Espanha convocou uma greve de 48 horas para os dias 30 e 31 de outubro em protesto contra a condenação dos líderes separatistas catalães a um total de, aproximadamente, 100 anos de prisão.
História
Em 1931, quando a Espanha se tornou uma República, a Catalunha conquistou a autonomia, que permitiu que hoje se considere esta região como uma comunidade autónoma de Espanha. Não obstante, durante a ditadura franquista, esse direito foi revogado. Quando o general Franco morreu e a Espanha disse adeus à ditadura, a Catalunha conquistou o direito de ter o seu próprio parlamento, força policial e sistema de educação. Mas a independência estava (ainda estará?) longe de ser conquistada.
Em Outubro de 1934, a Catalunha foi independente por 10 horas apenas. Este facto provocou a proclamação do “estado de guerra” e a intervenção do Exército. Durante esse curto período de tempo, de 6 para 7 de outubro, morreram 107 pessoas. Os independentistas não tinham armas suficientes e os revolucionários desistiram rapidamente de continuar a lutar por uma batalha perdida.
Oitenta e cinco anos mais tarde, a chama da luta pela independência continua acesa.
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