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José Mário Branco: a morte da voz de contestação portuguesa

Updated: Nov 20, 2019

Morreu, esta terça-feira, o músico, cantor e compositor José Mário Branco, consequência de um AVC.

Foto: José Carmo

Com 77 anos, o cantor e compositor deixou um legado na música desde o fado à música de intervenção. Natural do Porto, José Mário Monteiro Guedes Branco estudou História nas Universidades de Coimbra e do Porto, mas não terminou o curso.


Juntou-se ao Partido Comunista Português, ainda durante o Estado Novo. Foi perseguido pela PIDE e procurou exílio na França, em 1963. Apenas regressa a Portugal em 1974, quando funda o Grupo de Ação Cultural – Vozes na Luta!, com o qual grava dois álbuns.


A política sempre esteve presente na sua vida, nas suas músicas. Expressava as suas inquietações através da sua arte. “ Ser Solidário”, “Margem de Certa Maneira” , “ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” e “FMI” são dos discos mais conhecidos da sua carreira.


Para Marcelo Rebelo de Sousa “José Mário Branco era uma referência do período de resistência à ditadura, da revolução e pós-revolução de Abril e de uma geração que, através da sua voz, exprimiu a vontade de mudança política económica e social na sociedade portuguesa“, disse à TSF.


O primeiro-ministro recorreu ao twitter para reagir à notícia. Referiu-se a José Mário Branco como uma " figura cimeira da música moderna e da cultura portuguesa."

Escreveu ainda que " a erudição musical de José Mário Branco acolheu vários géneros, sem hierarquias, e estendeu-se a outros artistas" "Não esqueceremos a sua música, a sua inquietação."


Trabalhou com vários artistas portugueses, como José Afonso, Sérgio Godinho e Luís Represas. Foi compositor e produtor de vários álbuns de Camané e Kátia Guerreiro.

Camané emocionado, através da RTP, descreveu José Mário como “artista fantástico de uma dimensão incrível muito para além de um artista de intervenção”.


Em 2014, saiu o documentário “ Mudar de Vida”, de Nelson Guerreiro e Pedro Fidalgo, que retrata a vida e história do músico. E três anos depois, em 2017, foi homenageado na feira do livro do Porto, no mesmo ano em que celebrou 50 nos de carreira com o lançamento de um disco de inéditos.

“Sou o Zé Mário Branco, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto, continua, desde há 40 anos a denunciar e a acreditar que é possível realizar a Mudança, aquela grande mudança que faz transformar o Mundo e a Vida numa coisa melhor.”

José Mário Branco ganhou dois prémios José Afonso, prémio que reconhece o que é feito na música em Portugal.


Em comunicado, o partido Livre afirmou que "Para figuras da dimensão de José Mário Branco, a morte nunca existirá. E como nos canta no seu último álbum de 2004, resistir é vencer". O Livre definiu José Mário Branco como um "incansável lutador antifascista", realçando as muitas participações do artista em "ações pela democracia" tanto em Portugal como no mundo "nunca cedendo na defesa do princípio da liberdade".


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