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Writer's pictureAdriana Pinto

Simone Biles: 1,42 metros, 22 anos e 35 medalhas

A pequena, mas gigante, ginasta é considerada a melhor da atualidade e uma das melhores de sempre. Em outubro, tornou-se na mais medalhada, mas o seu percurso até aqui não foi fácil.

Foto: NBC Sports

No Campeonato do Mundo de ginástica de outubro passado, Simone Biles ganhou cinco medalhas de ouro: na competição de equipa, no all-around (volta a todos os aparelhos), no solo, no salto e trave, ficando ainda em quinto lugar nas paralelas assimétricas – a sua fraqueza, por assim dizer. Aos 22 anos, a norte-americana tornou-se, assim, na ginasta mais medalhada de sempre em mundiais.


Mas já nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, tinha feito história, quando ganhou o maior número de medalhas de ouro de sempre de uma ginasta americana numa única edição – quatro -, e igualou um número gigante de recordes com outros atletas, ficando, oficialmente, debaixo dos holofotes do mundo.


Mas apesar dos inúmeros motivos para festejar, Biles não se esquece do que passou para aqui chegar. Na auto-biografia que escreveu em 2017 – o seu ano de hiato – Simone relembra a sua infância, como comia cereais com água porque o leite era muito caro, como foi crescer com uma mãe solteira toxicodependente e três irmãos, ter passado por uma casa de acolhimento e ser adotada pelo avô materno e a sua mulher – que passou a considerar como verdadeiros pais.


O desporto entrou na sua vida muito cedo. Começou a treinar aos seis anos e o seu talento natural foi logo reconhecido pela treinadora Aimee Borman, que a colocou na seleção nacional. No início do seu percurso, foi submetida ao duro regime de Márta Károlyi, que não permitia sequer um riso às atletas, mas a relação com a treinadora acabaria por cair. Curiosamente, o gigante sorriso no fim dos exercícios viria a tornar-se numa das imagens de marca de Biles.


Conciliar os treinos intensos com a escola começou a ser muito complicado e Simone passou a ser educada em casa e acabaria por terminar os estudos assim. Entre dificuldades como arranjar tempo para si e para os amigos, na sua auto-biografia menciona como tinha vergonha dos seus músculos, como os tentava esconder para “agradar aos rapazes”.

Mas os frutos dos seus esforços cedo se revelaram. Desde que se tornou sénior, em 2013, que Simone Biles é a rainha da ginástica artística – título que tem vindo a assentar a cada competição em que participa.


Depois do seu gigante sucesso nos Jogos Olímpicos do Rio, Biles fez uma pausa da ginástica no ano de 2017. Em janeiro de 2018, anunciou que também ela foi vítima de abusos sexuais por parte de Larry Nassar, o médico da seleção de ginástica feminina americana que abusou de 300 outras ginastas e está a servir uma pena de 175 anos pelos seus crimes. Mas os percalços não ficaram por aí.


O hiato de 2017 foi o culminar de vários outros fatores, como a constante pressão para o sucesso e o cansaço dos treinos intensivos. “Estava tão exausta que precisava de uma pausa. Física e mentalmente – merecia-a”, disse em entrevista ao The Guardian. Biles esteve esse ano fora de competição, mas não parou. Para além de ter lançado a sua autobiografia, participou no concurso de televisão Dancing With the Stars, com a colega de equipa Laurie Hernandez, viajou e comprou uma casa perto dos avós, em Houston, no Texas.


A ginasta passou por uma depressão e teve de fazer psicoterapia, mas não deixou que isso a abalasse. “Já houve dias em que nem queria pisar o ginásio. Vou deixar que isso me tire a minha paixão e os objetivos que tenho? É só mais um obstáculo a ser superado”, disse ao The Guardian.


E Simone assim o fez. Em 2018, estava de volta à equipa norte-americana. Nos mundiais desse mesmo ano, apesar de afirmar não estar na sua “melhor forma”, a ginasta voltou a medalhar. Nas suas palavras, “tudo voltou muito naturalmente por causa da memória do corpo. Depois de se fazer algo durante tanto tempo, é quase como andar de bicicleta. Normalmente, a única coisa que nos para é o medo”.


Um ano depois, no Campeonato do Mundo em Estugarda, Simone Biles voltou com a força toda. Ganhou cinco medalhas de ouro, tornando-se na ginasta mais medalhada de sempre em Mundiais, afirmando assim o seu título de melhor da atualidade. Mesmo quando falha ligeiramente em alguns passos, o seu grau de dificuldade é tão maior que os das adversárias que a sua pontuação fica, na mesma, quase um ponto acima da segunda classificada.


Depois da primeira habilidade nomeada em sua honra, o exercício solo Biles, em 2013, nos Mundiais de 2018 apresentou a segunda habilidade da sua autoria no salto, o Biles, ao qual foi atribuído a dificuldade de 6.4, empatando-o assim com o Produnova como o salto mais difícil. Até hoje, Simone foi a única ginasta a fazê-lo.


Mas no Campeonato do Mundo de 2019, não fugiu à regra. Na trave, apresentou uma nova saída e no solo uma nova habilidade, à qual foi atribuída a dificuldade J – a única e mais elevada de sempre de qualquer exercício de ginástica artística feminina.


Resta esperar por Tóquio.

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