No dia 21 de dezembro de 2019, em Bragança, o jovem estudante cabo-verdiano Giovani Rodrigues foi vítima de um brutal ataque provocado por cerca de 15 indivíduos armados com armas e paus. Foi levado de imediato para o Hospital de Bragança e transferido, posteriormente, para o Hospital Santo António, no Porto, onde acabou por falecer, dez dias depois, a 31 de dezembro. Quem matou Giovani? E porque é que não nos chega nada acerca do caso?
Com que frequência se vê um crime com este nível de brutalidade no 3º país, supostamente, mais seguro do mundo? E não é noticiado com destaque? Porquê? Todos os dias somos bombardeados com notícias do género “ATACA MARIDO E OUVE MÚSICA CLÁSSICA” ou “IDOSA MORTA COM X-ATO”, e da brutalidade do assassinato deste jovem não ouvimos nada, ou quase nada.
O ataque é reminiscente de outro, que conhecemos há anos. A 10 de junho de 1995, Alcindo Monteiro, também jovem e também cabo-verdiano, foi espancado até à morte por um grupo de neo-nazis, entre os quais Mário Machado, de quem ouvimos muito falar agora, porque são estas as agonizantes ironias da vida.
Mudam-se os tempos. Mas e as vontades? Só começamos a saber – e pouco – da morte de Giovani agora, porque finalmente estão a ser exigidas explicações (e isto por parte de Cabo Verde). Quando o ataque ocorreu, a 21 de dezembro, nem um piu. Se calhar uma notinha no rodapé de alguns canais lá para as 11 da noite, como quem não quer a coisa.
Porque não se quer mesmo a coisa. É porque somos o 3º país mais seguro do mundo, é porque cá não há violência, porque somos todos pacíficos, e não há racismo, nem gente má, nem nada que se assemelhe, porque Deus nos livre, não é. Isto até ao dia, ou dias.
Há tempo para beijos e abraços, para trocas de postas de pescada amigáveis com André Ventura e para declarações rapidinhas sobre terrorismo ilusório, mas nunca há comentários reais para tecer a estas agressões.
Sim, o ataque pode ter sido desencadeado por uma rixa entre grupos na noite e nada ter a ver com racismo, mas o facto é que não lhe foi - nem está a ser - dada a atenção devida. Esta interrupção precoce da vida pela violência merecia ação audível por parte do Estado, da justiça e dos meios de comunicação portugueses. Até agora, nada. E o ciclo repete-se.
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