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Writer's pictureCatarina Moscoso

O Homem-robô

Preocupado com o dia em que os robôs dominarão o mundo? Notícia de última hora: esse dia já chegou e os robôs somos nós. Vivemos em piloto automático, numa sociedade que tem pressa para chegar a todo o lado e não chega a lado nenhum.


No dia em que deixei a minha terra, plantada atrás dos montes, para vir experienciar a vida urbana que tanto se ambiciona, deixei para trás uma vida de calma e simplicidade; uma vida desprovida desta azáfama e constante ansiedade que move milhares. Digam-me onde se cancela a subscrição, porque eu não pedi nada disto. Todos os dias é a mesma coisa: as constantes correrias para apanhar o próximo autocarro, os empurrões para ser o primeiro a sair do metro, as apitadelas dos condutores impacientes. Atropelar os que se atravessam no nosso caminho tornou-se um hábito e levantar o olhar para desejar um bom dia parece uma utopia. O importante é continuarmos a correr (para onde mesmo?) até nos apercebermos, sem fôlego, desgastados e irritados, que a meta nos foge a cada passo que damos.


Onde está a espontaneidade que dizem ser característica do ser humano? Onde está a racionalidade que usamos como desculpa para nos acharmos superiores aos restantes animais? Percorremos todos os dias as mesmas ruas, sem pararmos nunca para observar o que nos rodeia. Passamos pelas mesmas pessoas mais do que uma vez, sem reconhecermos nada nelas que as distinga das demais. Vemos, mas não observamos. Ouvimos, mas não escutamos. Vivemos, mas não aproveitamos.


Com o seu ar cosmopolita e aristocrata, a cidade serve de palco a esta robotização. Aqui, vivemos enjaulados, rodeados por paredes sólidas que nos aprisionam o pensamento e impedem que a imaginação voe. Somos robôs que agem de acordo com o que lhes é ordenado. Mas será que a culpa é inteiramente da cidade e do ambiente que nos rodeia? Esta é a geração que bebe café porque dormir é um luxo, bebe álcool para afogar os sentimentos porque ser vulnerável é pecado, esgota-se a trabalhar porque dinheiro é felicidade. E enquanto vivemos neste ritmo cegamente desenfreado, a vida escapa-se-nos pelos dedos como um passarinho livre que foge de uma gaiola.


Somos, assim, robôs por escolha nossa. Aceitamos o que a Fortuna nos oferece porque “seja o que Deus quiser”. E, por isso mesmo, viva a fatalidade do destino que tão bem justifica a minha passividade! Longa vida à crise económica que motiva a minha rotina das 9 às 5! Bendita sejas cidade fria e insensível que incentivas a minha falta de educação! E, acima de tudo, obrigada vida por me dares uma oportunidade que eu insisto em atirar ao chão. Agora, se não se importam, vou continuar a correr... Tenho um metro para apanhar.

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