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A utopia vegetariana do século XX

Updated: Dec 20, 2019

Exposição na Reitoria da Universidade do Porto revela as origens do vegetarianismo em Portugal. A investigação descobriu o primeiro hotel para vegetarianos e naturistas, o primeiro livro de receitas, uma revista e anúncios.


Foto: Cristiana Rodrigues

Ao contrário do que se pode pensar, o vegetarianismo não é um tópico recente em Portugal. A “revolução” vegetariana começou por volta de 1908. Já se bania o peixe e a carne do prato e discutia-se o estilo de vida vegano e fruti-crudívero. Esta discussão era motivada por duas organizações - a Sociedade Vegetariana de Portugal, fundada em 1911 no Porto, e o Núcleo Naturista de Lisboa, fundado em 1912.


A Sociedade Vegetariana de Portugal era composta pelo comité d’O Vegetariano. Esta publicação mensal, que contou com mais de 3.500 subscritores entre 1909 e 1935, foi a base de investigação do projeto Alimentopia. O Vegetariano promovia a ideia de que o vegetarianismo seria a solução para todos os problemas sistémicos existentes, porque ser vegetariano implicava, para além da dieta, todo um modo de vida com ideais éticos, políticos e sociais que podemos ser considerados utópicos.


O Vegetariano tinha artigos escritos em inglês e francês – com a devida tradução, fotos de crianças e família vegetarianas “ saudáveis” e relatos de médicos.


Ao consultório médico d’O vegetariano chegavam cartas de leitores de vários países do mundo – China, Argentina, Estados Unidos, França, Itália, Índia, Guiné, Angola.

Foto: Cristiana Rodrigues

O esquecimento


Este estilo de vida e pensamento político começou a ser visto como uma ameaça durante o Estado Novo. Apesar de ter conquistado milhares de seguidores durante os primeiros anos do séc. XX, caiu no esquecimento na altura do regime.


“É um caso de amnésia coletiva que queremos aqui recuperar: um país cuja identidade cultural se afirma pelas mil maneiras de cozinhar bacalhau, pelo peixe fresco da costa, pelas papas de sarrabulho e pela carne de porco à alentejana, e que recalca a memória de um período da sua história em que um número considerável de indivíduos optou por adotar a dieta vegetariana”, explica Fátima Vieira, Vice-Reitora da U.Porto.


Esta investigação da Alimentopia deu origem à exposição ““Pêros, Avelãs e Figos. Os vegetarianos utópicos de há 100 anos”, que se encontra na Galeria da Casa Comum, na Reitoria da Universidade do Porto.


Foto: Cristana Rodrigues

A pesquisa conseguiu localizar também o “Grande Hotel Frutí-Vegetariano”, o primeiro hotel para vegetarianos naturistas, inaugurado em 1913, no Porto, junto à estação de São Bento. Para além disso, descobriu o livro “Culinária vegetariana, vegetalina e menus frugíveros”, publicado em 1916, com mais de 1200 receitas e fotografias que mostram o “ar saudável” dos vegetarianos.


No final do mês, o projeto da Alimentopia, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, vai publicar uma antologia de 60 textos naturalistas a partir do séc. XVI.


A exposição é de entrada livre, de segunda a sexta, das 10h às 18h, e estará na Reitoria do Porto até 27 de dezembro.

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