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Writer's pictureAdriana Pinto

Fórum do Futuro: Danny Glover, “Conversa, discurso e ação”

O Rivoli recebeu Danny Glover esta terça-feira, dia 6, no âmbito do Fórum do Futuro. Perante uma plateia cheia, o ator, diretor e ativista falou da escravatura, justiça e reparações durante mais de uma hora.


Foto: Catarina Moscoso

O Fórum do Futuro arrancou no passado domingo, dia 4, na cidade do Porto, guiado pelo motivo “Travessias / Crossings”. Para além de Chimamanda Ngozi Adichie – cuja sessão esgotou quase imediatamente a seguir à abertura da bilheteira -, Danny Glover era a outra principal atração do evento.


Perto das 20:40h, tanto o espaço interior como o exterior do Rivoli estavam cheios. Às 20:50h, as portas do Grande Auditório abriram-se e, rapidamente, todas as filas se preencheram.


Tendo em conta a temática desta edição, foi apresentado um projeto novo, repartido por todas as sessões. Em colaboração com o poeta e académico Fred Moten, uma das figuras principais dos estudos afro-americanos e dos direitos e movimentos de reparação, cujas obras têm influenciado gerações de pensadores e ativistas, produziu-se um projeto fílmico no qual o poeta lê partes da sua obra relacionadas com as temáticas abordadas pelos vários convidados do programa, incluindo, claro, Danny Glover. As luzes principais apagaram-se e ouviu-se a voz da apresentadora: “Senhoras e senhores, vamos dar início à sessão”. E sendo que esta era de grande medida, foi transmitida uma parte considerável do filme.


Foto: Catarina Moscoso

A vida e história de Danny Glover são de tamanha dimensão que tiveram direito a introdução por parte da curadoria da edição deste ano do evento, que aproveitou também para agradecer ao público o enorme envolvimento tantos nos programas, como nos temas neles debatidos. “Mas não vos vou fazer esperar mais”, disse Gareth Evans, um dos curadores. “Por favor, deem as boas-vindas a Danny Glover e a John Akomfrah”. Super descontraído, o ator entrou em palco de boné na cabeça e a sorrir. Ao seu lado, Akomfrah, artista e diretor britânico, cujo “compromisso com o radicalismo tanto quanto à política, como ao cinema, encontra expressão em todas as suas obras”, também sorria.


O debate ou troca de ideias começou leve. Apesar da introdução ao início, queria-se ouvi-lo do próprio Danny Glover. Como cresceu? Quando começou a sua devoção ao ativismo? Onde desenha a linha entre o ativismo e a representação?


“Eu sou uma criança do Movimento dos direitos civis”, afirmou imediatamente. Para Glover, o ativismo sempre esteve lá. “Eu tinha sete anos e estava com o meu avô à espera do autocarro. Quando chegou a altura de entrarmos, o típico sinal estava lá: “Pessoas de cor no fundo”, e o meu avô disse-me: 'vamo-nos sentar aqui à frente', isto em 1953.”


Foto: Catarina Moscoso

Glover procedeu para contar como os seus pais sempre estiveram envolvidos na NAACP (Associação Nacional pelo Avanço de Pessoas de Cor) e em como o ativismo sempre lhe foi ensinado. Quando chegou à faculdade – SFSU (Universidade Estadual de San Francisco) – a próxima direção a seguir tornou-se óbvia para si – juntar-se à União de Estudantes Negros, participando logo na greve estudantil de 1968, que levou à criação do primeiro Departamento de Estudos Africanos em qualquer universidade dos EUA.


Quanto à representação, “tudo está ligado”, diz. O seu primeiro trabalho como ator surgiu, precisamente, na universidade, devido a ligações ao ativismo, quando o seu colega Amiri Baraka o convidou para participar numa das suas peças.



Escravatura, Justiça, Reparações


Danny Glover começa por abordar o seu endosso de Bernie Sanders, candidato democrata à presidência dos Estados Unidos para 2020 e quem já apoiou em 2016. “Claro que apoio o Bernie. Onde está o meu pin? Devo-me ter esquecido dele hoje”, afirma, arrancando risos à plateia. “Todos os candidatos democratas apoiam o conceito de reparações nos seus programas, mas o Bernie é o único que sempre esteve lá, desde o Movimento dos direitos civis. E é quem tem o programa mais completo.”


O ativista não avança sem salientar a ideia do socialismo e relembra como “as lutas das minorias – pessoas de cor, LGBTQ+, mulheres, etc - têm de se agregar e só unidos conseguimos desafiar o sistema.” Frisa como Martin Luther King Jr., no dia da sua morte, estava no estado de Tennessee a apoiar a greve de trabalhadores de um saneamento e em como a luta de classes sempre foi o seu principal foco, ao lado dos direitos raciais.


Mas Glover não é só ativista nos Estados Unidos da América. Ao longo dos anos, tem-se tornado uma das principais vozes das desigualdades no Brasil, na África do Sul, na Nigéria, na Venezuela e no Haiti.


Foto: Catarina Moscoso

“Oh, não”, foram as palavras do ator quando John Akomfrah o avisou de que o tempo da conversa estava a acabar. Porém, houve ainda tempo para perguntas e agradecimentos do público. Quando alguém o questionou quanto à inércia de muita gente no que toca aos problemas sociais, Danny Glover respondeu: “Conversa, discurso e ação. É disso que precisamos.”


O Fórum do Futuro começou no passado domingo, dia 3, e vai continuar a percorrer a cidade do Porto até sábado, dia 9, com convidados como Clémentine Deliss, Arthur Jafa e Vandana Shiva.

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